quarta-feira, 27 de março de 2013
Seus olhos fecham e abrem sem pressa. A calma de terras distantes. Ela traga seu cigarro- marlboro light, sempre fiel- profundamente, abaixa o olhar para o chão e esboça um sorriso resmungando algo que não consigo entender e permitindo à fumaça que saia e contemple sua beleza. Sua pose de Belle de Jour me encanta mais à cada segundo. Ela termina o cigarro jogando-o no chão ao mesmo tempo em que assopra a fumaça restante. Pisa suavemente com seus pé calçados com um sujo all-star e acaba com a brasa restante, nesse momento levanta o olhar e me olha nos olhos. Esse olhar me penetra de uma forma que jamais vi, ela impossibilita qualquer reação, como se me amarrasse e me obrigasse a olha-la para o resto da vida. Eu obedeço, apenas a olho, e ela sorri um sorriso de Mona Lisa, mantém seu jeito blasé e me dispara uma pergunta, que não entendo. Não sei se não entendo por causa da língua, ou se a culpa é do meu estado de inércia perante àquele olhar. Ela repete e a respondo alegremente, ela retoma seu sorriso blasé e olha para o lado enquanto sabe que a olho sem vergonha nenhuma. Um gole do drink e volta à encarar o chão. Pego a carteira de cigarros e a ofereço um, ela o aceita agradecendo com um obrigado desajeitado, acendo seu cigarro e acendo um para mim também. Uma conversa esfumaçada em línguas variadas até o ciclo voltar e eu me prender a contemplá-la. Por mim faria isso pelo resto da vida. Me alimentaria do gosto dos seus lábios, mataria minha sede com o verde água de seus olhos e morreria feliz quando o coração parasse .
terça-feira, 19 de março de 2013
Entre toda loucura, ansiedade, transtornos e milagres. Tudo começa certo de que terminará, não entendo é essa finalidade de tudo, para que ter um final, o final do livro, do filme, do poema, do amor, da vida... Não poderia simplesmente continuar? Vai indo, sem prazo de validade ou hora de chegada, sem fim, sem meio, sem agora. Estou cansado das linhas de chegada , dos términos e sumiços do nada...
domingo, 17 de março de 2013
Quem vem me dizer o que é certo ou errado? Para o inferno com suas convenções da realidade! Prefiro a realidade alterada, entorpecida por litros de vodka barata. Tocaram o puteiro aqui ao lado e ninguém ousou reclamar do barulho. Os porcos perambulavam pela rua sem se importarem com nada, pagaram a cerveja, cederam uma carne, tá tudo certo, no esquema. Milhões de cigarros , bitucas para todos os lados, mas ninguém vê o desespero. O Bong relaxa ao lado, seus olhos cansados de ver tristeza fecham-se lentamente ao som da música. O mundo segue lá fora, aqui dentro o mundo desaba num terremoto diário que não mata, mas fere, fere fundo. O mal do século, culpam a música pop, a internet, talvez seja, talvez não, a verdade é que não faz diferença. A festa continua no vizinho, Crianças sorrindo passam correndo sem se preocuparem se irão cair ou não. O vizinho reclama do cheiro, sente-se ofendido. Que se foda, que se ofenda, que reclame. Os olhos voltam a se abrir numa festa de sangue, mais um trago, mais um gole. O cigarro vai se acabando, o gosto de horas de nicotina é desagradável até para quem o fuma, o cheiro impregna no cabelo, nos dedos, é o cheiro do desespero, o cheiro da tristeza, a companhia que sai cara. O cigarro queima entre os dedos e ele o contempla, é o penúltimo, ainda são duas horas da manhã, terá de sair para comprar mais, mas não tem nada aberto por perto. Foda-se, fuma-se erva , até melhor, o cheiro é menos triste . Remédios para dormir nunca funcionaram, O relógio não para , avança sem pena alguma. Na televisão só o que se tem é a merda pornográfica de sempre. Putaria disfarçada com roteiro de quinta . A poesia atormenta a cama amarrotada que sente falta daquela pele que nunca mais voltou. Mais uma dose batida com uns comprimidos achados na bolsa que a velha largou numa mesa de bar, com sorte rola algo de bom, quem sabe não volta a imagem do corpo na cama vazia e triste. Seu cachorro lambe o saco e olha com cara de tédio sem entender o sentimentalismo barato dele. É tão difícil esquecer algo, alguém... Acende o último cigarro e senta na janela para sentir-se vivo. A noite é quente, mas bate um vento confortante. Vem um som do computador, combustível da paranoia. Ninguém dorme na cidade.
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