sábado, 9 de março de 2013

Paranoia

Encaro a folha branca, não há dose certa. A arma está apontada pra cabeça e pronta para cuspir, falta apenas a ordem de despejo . Não há dose certa. Pilulas de diferentes cores e formatos. Uma para dormir, outra para comer, outra ainda para não comer, uma para deixar feliz, uma para esquecer... Coleciono manchas na mesa, retratos colados na parede suja de desespero. A primeira foi a grande culpada, ela jurou a eternidade e me deu um mês. A segunda me deu mais esperança do que qualquer outra coisa, A terceira não me deu nada, só vergonha, filha da puta. Acho que perdi a vontade, o interesse na verdade. É tudo lindo no início , e então acontece, e morre como uma flor comprada na floricultura mais cara da cidade. Tenho um curto prazo de validade, entende? Aqui nada para por um tempo, Segue-se a busca desenfreada pelo perfeito que não conheço e não vou conhecer. Quero sempre o que não tenho, o que não se pode ter. Um medo absurdo de vencer, apreço pela derrota que não sei explicar, é foda. A folha continua branca, nada nasce nada cresce. me vem imagens agora , possíveis movimentos errados, palavras, atos. A calma da poesia desesperada. "não há merda que se compare à bosta da pessoa amada" Não há nada, o bigodudo tinha razão. Quem sabe não há nada, apenas paranoias embaladas por haxixe. Apenas alucinações ansiosas da mente entorpecida por palavras de desassossego e desespero . Quem não sabe o poder que tem ? Ou o poder que não tem, a insegurança do ser à procura da essência. Paranoia, ácida paranoia do dia seguinte, semana seguinte. Quem sabe não é até abstinência. Uma semana, um dia , dez horas e sete minutos. Seria inútil contar os segundos, que são tão apressados ao seu lado. Pareço atordoado, pareço não, sou, mas quem liga? Aqui e ali todos estão tomando pilulas, para dor de cabeça, para gastrite não desejada, para não desejar , para não ser, para controlar. Voltamos às pilulas coloridas , ou brancas. Diria que algo anda errado. O cano da arma apontada para minha garganta agonia-se e quase cai de sono , não aguenta mais ouvir a conversa , ele só quer fazer seu trabalho e voltar pra sua casa e tomar suas pilulas para dormir. E para que reprimir o ser? Por que não falar eu te amo dez vezes por ano? Esse medo de amar e ser amado, essa confusão enlouquecida, chapada. Exigem-me uma resolução para a folha em branco. Que se fodam os burocratas e seus relatórios. Só me falta a paz , só me falta uma ligação. Em menos de um mês tudo vira água, que nos molha por inteiro e escorre para o bueiro.

sexta-feira, 8 de março de 2013

A melancolia era tão grande que seu peito explodia a cada batida do coração. Ele sorria na rua, contava piadas e cantava músicas antigas para que as lágrimas de aflição não saíssem rolando. Não há nada, mas ao mesmo tempo parece que perdeu-se tudo. A melancolia, a esperança, o medo... Não sabia na verdade o que era, mas bom não era.

quarta-feira, 6 de março de 2013

Rebobine por favor!


"O desespero eu aguento.
O que me apavora é essa esperança."
Millor Fernandes


Tudo segue de onde parou.
Um intervalo desconexo
Mudaram as engrenagens
Desaparafusaram os parafusos
Pararam o tempo
E voltaram a fita
Que continue de onde paramos
E logo vem o fim...
Tão esperado quanto certo
E o desespero bate assim,
Desconexo
Com nexo
Desvairado
Sem mira, ao acaso
E eu paro.
Espero
Desespero
Não falo
Aceito
Calado
...
E volta,
Mas sem tanta vida
Vai sentindo a Partida
Aceitando os fatos
E morre sem pecado


sábado, 2 de março de 2013

Sonho

Acordo no meio da noite
Olho para o lado e não vejo nada
Apenas lembranças
Fios restantes da noite
O perfume ainda permanece no ar
Na carne
No lençol
Fecho os olhos e sinto o toque
Pele de seda pura
Beijos frescos de amor
O sono me leva pra perto
E não quero acordar tão cedo...

sexta-feira, 1 de março de 2013

As paranoias da cidade
Inquietações
Espero horários pré combinados
Não respeitáveis
Nem lembro se era verdade
Imaginando histórias contáveis
Que não fazem sentido

Estipulo metas
Encontros de um só
Que perdeu-se na esperança
De viver de verdade
E ela dormia,
Um sono despreocupado