Estava mais de duas horas atrasado, mas foda-se, decidira que não se importava muito com isso, quando desse vontade iria com calma. Ele rodava entre dois quarteirões, nunca se afastando muito dali. Não parava, mas simplesmente não conseguia se afastar. Não que tivesse alguma coisa para fazer por lá, talvez uma esperança louca de poder viver por ali, estender um pano e dormir na calçada esperando um milagre, acho que na real era isso que ele queria, simplesmente estender um pano e fazer plantão na calçada esperando um maldito milagre. Buscava revirar lembranças e enfim descobrir onde errara, onde começara a ficar tudo fudido.
Começava a anoitecer e os retardados aplaudiam o pôr do sol , O desprezo era evidente em seus olhos. Já ouvira muitas vezes que era invejoso, mas na real era puro desprezo mesmo, julgava-se superior ao mundo. Egocentrismo talvez, inveja não. De qualquer forma afastava-se da muvuca de jovens praieiros que estava ali, voltou-se à calçada e sentou no meio fio para mais um cigarro. O mendigo pedia esmola para sua fuga, ele não contribuiu com nada, tinha pouco e na real era meio egoísta também, mas deu um cigarro à ele e desejou boa sorte na mendicância. Pensava agora, olhando para o cigarro, se o avião já teria partido. Provavelmente estaria frio lá, melhor que o inferno daqui. Mais uma viagem, mais uma temporada entorpecida. Olhando a fumaça azul invadindo o céu já escuro foi inevitável o pensamento:
-Estranho, ela que adora viajar, nunca falou de ir à Roma.
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