Ontem Moisés morreu.
Por lá mesmo ficou,
nada mudou.
O relógio correu
foi apenas mais
Um dia na vida
Todos acordaram
levantaram de suas camas,
olharam o mundo ao redor de suas cabeças
tomaram café e perceberam
que estavam atrasados
para o ônibus lotado
com gente doente
e que
viria a adoecer.
Não fosse um,
era outro.
Ali não faz diferença.
Nem aqui na verdade.
São corpos a mercê
das vontades...
Vontades de vencer,
de comer.
Vontade de matar!
Arrancar tudo possível,
até que fique estirado.
E outros, assustados
tomem seu lugar
para ali também esfalecer.
São corpos jogados,
que não podem falar,
nem despedir
nem chorar.
Se juntam aos outros.
Alguns milhares
de corpos jogados
talvez maquiados
que ninguém lembrará.
A menina fora estuprada
Uma, Duas, Três...
O primeiro veio do sangue
seguiu-se com o da lei.
De pessoas sedentas
nocivas e soltas.
Que servem à Cruz!
Que servem ao Rei!
Milhares de falos,
que rasgam a carne
todos os dias
de quem nada fez.
Milhares de olhos
que queimam em chamas
a fraca vontade
de quem já sofreu.
Cem anos e nada.
Ficamos na mesma
Com falsas esperanças
Memórias fabris
Máscaras baixas
Esforços em vão
Quem matam nos muros
de supermercados
e ruas lotadas
de corpos sem vez.
Resolvem cortando
as asas disformes
os sonhos tão simples,
esfregam exemplos
na cara de todos
de como agir
de como sorrir
de como servir
Depois, só morrer.
São longos 100 anos
E as pessoas?
Elas continuam
não sendo boas umas com as outras.
Nos dão outros nomes
'pra mesmas verdades
Nos deixam na fila
de felicidade.
São olhos distantes
corpos afastados
que lutam os dias
e fecham os olhos
'pra toda desgraça
Mas agora,
que não pode vê-la
As dores do mundo
e todas as lutas
lhe pesam no corpo
que pede uma pausa.
Há anos não sinto
os olhos fecharem,
os braços tremerem,
o ar me faltar...
Há anos não choro
Ou sinto as lágrimas
que não são vazias
que socam minha cara!
O ódio perpétuo
de falsos algozes
do cão ao seu lado
morrendo de fome
e raiva incubada
a guerra presente
a vida acabada.
Continuamos distantes,
de corpos e falas
A morte assombra
As pílulas esquecem
O corpo desaba...
20/08/2020
quinta-feira, 20 de agosto de 2020
Corpos mortos
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