quinta-feira, 20 de agosto de 2020

Corpos mortos

Ontem Moisés morreu.

Por lá mesmo ficou,

nada mudou.

O relógio correu

foi apenas mais

Um dia na vida

Todos acordaram

levantaram de suas camas,

olharam o mundo ao redor de suas cabeças

tomaram café e perceberam

que estavam atrasados

para o ônibus lotado

com gente doente

e que 

viria a adoecer.


Não fosse um,

era outro.

Ali não faz diferença.

Nem aqui na verdade.

São corpos a mercê

das vontades...

Vontades de vencer,

de comer.

Vontade de matar!

Arrancar tudo possível,

até que fique estirado.

E outros, assustados

tomem seu lugar

para ali também esfalecer.


São corpos jogados,

que não podem falar,

nem despedir

nem chorar.

Se juntam aos outros.

Alguns milhares

de corpos jogados

talvez maquiados

que ninguém lembrará.


A menina fora estuprada

Uma, Duas, Três...

O primeiro veio do sangue

seguiu-se com o da lei.

De pessoas sedentas

nocivas e soltas.

Que servem à Cruz!

Que servem ao Rei!


Milhares de falos,

que rasgam a carne

todos os dias

de quem nada fez.

Milhares de olhos

que queimam em chamas

a fraca vontade

de quem já sofreu.


Cem anos e nada. 

Ficamos na mesma

Com falsas esperanças

Memórias fabris

Máscaras baixas

Esforços em vão

Quem matam nos muros

de supermercados

e ruas lotadas

de corpos sem vez.

Resolvem cortando

as asas disformes

os sonhos tão simples,

esfregam exemplos

na cara de todos

de como agir

de como sorrir

de como servir

Depois, só morrer.


São longos 100 anos

E as pessoas?

Elas continuam

não sendo boas umas com as outras.

Nos dão outros nomes

'pra mesmas verdades

Nos deixam na fila

de felicidade.


São olhos distantes

corpos afastados

que lutam os dias

e fecham os olhos

'pra toda desgraça

Mas agora,

que não pode vê-la

As dores do mundo

e todas as lutas

lhe pesam no corpo

que pede uma pausa.


Há anos não sinto

os olhos fecharem,

os braços tremerem,

o ar me faltar...

Há anos não choro

Ou sinto as lágrimas

que não são vazias

que socam minha cara!


O ódio perpétuo

de falsos algozes

do cão ao seu lado

morrendo de fome

e raiva incubada

a guerra presente

a vida acabada.


Continuamos distantes,

de corpos e falas

A morte assombra

As pílulas esquecem

O corpo desaba...


20/08/2020

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